Rememorando a final do VIII Torneio Intermunicipal de Futebol do Maranhão, em 25.12.1961.
Washington Luiz Maciel Cantanhede
Conversando ontem à noite, casualmente, com meu vizinho Mandu (Antônio Benedito Macedo Dutra) e Vitorino Almeida, outro conterrâneo muito afeito às coisas do esporte, vi o contentamento dos dois com o momento auspicioso por que passa o futebol vitoriense, devido ao grande apoio que vem recebendo da atual gestão municipal, como eles mesmos destacaram, o que é muito para louvar-se, aplaudindo-a na pessoa do prefeito Nato.
Punham eles em destaque os feitos marcantes deste ano que se finda no tocante ao campeonato municipal: público recorde no estádio, transmissão dos jogos pela internet em tempo real, premiações respeitáveis, presença das autoridades municipais nos jogos e a disputa final entre equipes do interior do Município pela primeira vez na história do esporte local.
Lembrei-lhes então de que hoje se completariam os 60 anos da final do Campeonato Intermunicipal de Futebol em que Vitória do Mearim fez a sua melhor figura no esporte ao longo da história. Ambos ficaram comovidos. Mandu, inclusive, declarou-se arrepiado pela emoção da lembrança. Prometi-lhes que hoje faria o devido registro da efeméride. Cumpro agora o prometido.
Em 21 de abril de 2017, comemorando o aniversário do Município de Vitória do Mearim, a Academia Arariense-Vitoriense de Letras, matriz da atual Academia Vitoriense (exclusiva da nossa terra), já prestara uma homenagem, pessoalmente ou in memoriam, a todos os jogadores daquela época e aos mais destacados que atuaram depois, inclusive ao próprio Mandu. Na ocasião, fiz, como presidente da AVL, um discurso em que rememorei o feito heróico de 1961, do qual extraio todas as informações que agora publico aqui, em homenagem aos 60 anos, hoje, do jogo final daquela competição.
Era o dia 25 de dezembro de 1961 quando as seleções dos municípios de Rosário e Vitória do Mearim enfrentaram-se no Estádio Nhozinho Santos, em São Luís. Mas a disputa na capital maranhense vinha se desenvolvendo há 15 dias. E tudo aconteceu como a seguir passo a contar.
Iniciou-se no dia 10.12.1961, no Estádio Nhozinho Santos, na Vila Passos, em São Luís, o VIII Torneio Intermunicipal de Futebol do Maranhão, promovido pela Federação Maranhense de Desportos (FMD). Era uma das mais populares competições que havia no Estado, causando grande sensação na capital e nas cidades donde provinham as seleções que a disputavam.
Participaram do intermunicipal de 1961 as seleções de Bacabal, Caxias, Guimarães, Humberto de Campos, Ipixuna (a mesma São Luiz Gonzaga), Pedreiras, Pinheiro, Rosário, São Bento, Viana e Vitória do Mearim.
O “Papão do Mearim”, como era chamada a seleção de Vitória, tinha chegado à capital desde o dia 5. Pela grande influência do Cel. Arlindo Faray, que tinha sido comandante da Polícia Militar do Maranhão e era cunhado e primo de Emílio Abraham Faray, o juiz de direito de Vitória do Mearim, e ainda pelo trânsito fácil do delegado de polícia de Vitória e um dos chefes da delegação, Adail José da Costa, nos círculos policiais, a nossa seleção se concentrou e treinou no Quartel da PM, sito na Rua da Palma-Centro, onde hoje é o Convento das Mercês.
Sem um grupo de reservas completo e que tivesse alcançado o mesmo nível dos titulares, os protetores e dirigentes da seleção vitoriense, entre os quais o prefeito municipal, e também um dos chefes da delegação, Urany Gusmão da Costa, providenciaram duas ou três aquisições para o time, como o jogador Orlando, de São Luís; e o jogador apelidado de Nágua Velha, de Penalva, que tinha o sobrenome Furtado e assim foi identificado oficialmente pela FMD – socorreu-me, para que eu possa afirmar isso, o confrade José Farias, cuja esposa é penalvense. Furtado, ou Nágua Velha, faleceu há poucos anos.
No dia 10 de dezembro, na solenidade de abertura, o coronel José Pereira dos Santos, presidente da FMD, hasteou o pavilhão do Brasil, enquanto a banda de música da PM executava o hino nacional. Stélio Fonseca, vice-presidente do Moto Clube e dirigente da FMD, leu o juramento do Intermunicipal, que foi prestado pelos competidores presentes. O coronel então, em objetivo discurso, declarou inaugurado o certame. Desfilaram na abertura as delegações de Vitória do Mearim, Pedreiras, Coroatá e Pinheiro.
Seguiu-se a primeira rodada, enfrentando-se no Nhozinho Santos, no jogo inaugural do campeonato, Coroatá e Vitória do Mearim.
A seleção de Vitória, com Deco e Arãozinho, aquele finalizando uma jogada deste, marcou primeiramente. Lambau, completando com êxito uma jogada de Ernesto, venceu, já na etapa final, a perícia de Jardim, e Coroatá empatou o jogo (1 x 1). Terminou assim o período regulamentar. A prorrogação de 30 minutos encerrou-se sem mudança do placar. Seguiu-se a cobrança dos pênaltis. Pinto cobrou as penalidades por Vitória, assinalando dois tentos e desperdiçando uma oportunidade. O adversário, por Coroatá, fez o contrário: perdeu duas e acertou só uma. No final, portanto, por 3 a 2, Vitória mandou os primeiros adversários de volta para casa. A seleção vitoriense jogou com Jardim, Bazinho (João Câncio), Vicente, Mercês, Índio (João Franco), Cristovam (João II), Pinto, Deco (Índio), Itacy, João II (Deco) e Arãozinho.
Duas notas curiosas, uma delas muito lamentável: ao final do “cotejo de abertura”, o treinador José de Assis, responsável pelo plantel de Vitória, emocionado com o triunfo, desmaiou; e o estudante Fernando José Bastos, filho de Vitória, aplicado aluno do Colégio São Luiz e enteado do industrial e desportista Nagib Feres, presente no Estádio e também emocionado, ao acender um foguete para comemorar o resultado alcançado pelos seus conterrâneos, detonou-o em uma das mãos, destroçando parte do membro, motivo de ser internado no Hospital Português, onde foi submetido a melindrosa cirurgia. Perdeu, no dia seguinte, a prova final do ginásio e, por isso, a festa de formatura, que estava marcada para o dia 17 de dezembro.
No dia 12, os jornais noticiavam: o treinador José de Assis já estava bem e tinha declarado que os seus jogadores estavam em muito boa forma, tinham recebido “bicho” de 300 cruzeiros pela vitória contra Coroatá e continuariam treinando por toda a semana. Noticiavam também que times da primeira divisão estavam interessados na contratação do “guarda-valas” Jardim e do zagueiro Vicente.
Em uma série de jogos sensacionais, foram classificadas para a fase semifinal, além da seleção de Vitória do Mearim, as de Humberto de Campos, Bacabal, Ipixuna, Rosário e Pedreiras.
Em semifinal, a seleção de Vitória enfrentou a muito aplaudida seleção de Humberto de Campos, tida como uma das favoritas para o título. Como é comum no futebol, o rival jogou melhor mas perdeu, por excesso de confiança, na partida contra Vitória em 21.12.1961. Aos 33 minutos do 1º tempo, Índio marcou para a seleção de Vitória. Humberto de Campos empatou, convertendo um pênalti aos 10 minutos do 2º tempo. Mas, aos 36 minutos da etapa derradeira, Deco consagrou o placar: 2 a 1 para Vitória do Mearim. Vitória do Mearim jogou com Jardim, Índio, Vicente, Mercês, João Franco, Pinto, Itacy, Jonas (Orlando), Furtado, Deco e Arãozinho.
A 23 de dezembro já se sabia que o vitorioso do jogo entre Bacabal e Rosário seria o adversário de Vitória do Mearim na disputa final pelo torneio intermunicipal. Era grande a expectativa. “As seleções desclassificadas já retornaram aos seus municípios, enquanto desportistas de Vitória do Mearim, Bacabal e Rosário deslocam-se para a capital com a finalidade de dar maior incentivo aos representantes de suas comunas na decisão do VIII Torneio Intermunicipal de Futebol” – noticiava o jornal Pacotilha-O Globo.
O inesquecível embate final foi no dia de Natal, 25 de dezembro de 1961. Registrou Pacotilha-O Globo do dia 26 de dezembro:
"Movimentadíssimo, sem dúvida, foi o cotejo de encerramento do VIII Torneio Intermunicipal de Futebol.
Rosário e Vitória do Mearim, reunidos em sensacional duelo, ontem à tarde, no Estádio Municipal Nhozinho Santos, preliaram durante 120 minutos para decisão do cetro máximo do certame patrocinado pela Federação Maranhense de Desportos.
Os rosarienses começaram comandando o marcador, chegando a assinalar 2 a 0 na primeira etapa. Nos últimos minutos do primeiro tempo, os vitorienses diminuíram a vantagem dos conterrâneos do prefeito Ivar Saldanha (2 x 1).
Na fase complementar, Vitória reagiu e obteve o empate (2 x 2). Com igualdade de marcador, o período regulamentar foi encerrado, sendo inaugurada posteriormente a prorrogação de trinta minutos.
Rosário triunfou pela contagem mínima, mas o atleta Pinto, de Vitória, perdeu uma penalidade máxima, que daria novo empate ao seu selecionado.”
Com tristeza, mas de cabeça erguida, assim terminou em vice-campeonato o sonho futebolístico vitoriense de 1961.
Deco e Pinto (convertendo um pênalti), tinham marcado para a nossa seleção no tempo regulamentar.
Vitória jogou a partida com: Jardim, Índio, Vicente, Mercês; João Franco, Pinto, Itacy, Jonas, Deco, Furtado e Arãozinho (Cristovam).
Com galhardia, eles foram trazidos de volta para a nossa cidade pela lancha Estrela do Mar.
Dentre os vitorienses que efetivamente jogaram os três jogos do campeonato, já faleceram Bazinho (Euzemar dos Santos Barros), Cristovam Dutra Martins, Índio (José Raimundo Furtado Prazeres), Itacy Nery Matos Figueiredo, Jardim (José de Nazaré Jardim), João Câncio Almeida, João Bezerra Franco, Jonas Braulino Correa e Pinto (Antônio Carlos Rodrigues Figueiredo).
Estão vivos: o vitoriense por adoção Arãozinho (Arão Almeida Faray Filho) e os de nascença Deco Vieira (Ademar Coelho Vieira), Mercê Marinho (Moacy das Mercês Marinho) e Vicente Braga (Vicente Antônio Gonçalves), retratados nesta publicação em fotos de 2017, quando foram homenageados pela AVL.
Nossos aplausos a esses heróis de um passado recente! Para sempre sejam todos lembrados!
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