E agora, Vale?
A lama inundou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
vidas se foram,
e agora, Vale?
e agora, você?
você que é bilionária,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, Vale?
Está sem moral,
está sem discurso,
está sem barragem,
já não pode minerar,
já não pode escoar,
cuspiu na natureza,
e ela chorou,
o dia não veio,
o trem não veio,
o riso não veio,
a barragem estourou
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo enlameou,
e agora, Vale?
E agora, Vale?
O rio doce sem palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de ferro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
saqueou nosso minério,
não existem florestas;
mas o rio secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
Vale, e agora?
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem Brumadinho,
sem funcionários
para se encostar,
sem a mata verde
que fuja a galope,
você marcha, Vale!
Vale a pena valer isso?
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